Deus e os sentimentos
- Danniel Ribeiro
- 10 de abr. de 2015
- 9 min de leitura
Estive lendo agora a pouco um livro muito interessante chamado "O Deus que você conhece" (obra de Bill Hybels), e um dos capítulos que mais achei interessante se chama: Você procura um Deus que posssa rir e chorar com você? E então decidi compartilhar com vocês!

"Pare de rir. Você está na igreja. O que há com você?"
"Aqui não é lugar de chorar. Se não consegue se controlar, vá para seu quarto até conseguir parar."
"Engula essa raiva. Não vai adiantar nada querer botá-la para fora."
Essas vozes atormentaram minha juventude. Cresci em Michigan, numa subcultura holandesa muito piedosa, e, embora essa criação tenha preparado o caminho para a minha experiência mais preciosa – um relacionamento com Jesus Cristo, também me deixou com a impressão de que os sentimentos intensos de qualquer espécie precisavam passar por "cortes".¹ É dessa forma que Bill inicia seu livro, nele ele apresenta um Deus que se importa com aquilo que sentimos e não apenas com a razão.
Devemos entender que o ser humano foi criado com emoção e razão, e deve haver um ponto de equilíbrio entre ambos. O mundo pede pra você seguir os sentimentos e as Igrejas e demais fábricas de crenças (ateístas ou não) em geral, afirmam que a razão é o centro da vida, mas talvez se pararmos pra estudar Deus (tentar entender o que Ele nos revelou sobre Si mesmo), conseguiremos entender o que o autor do livro quis dizer com: Deus se permite uma variedade de sentimentos!
Deus dá lugar ao deleite?
Neste tópico em seu livro Bill utiliza o argumento de que ao criar o mundo, dia após dia, o Criador se deleitava e ainda ao final, no sétimo dia, contemplou de forma alegre toda obra que criara. Por todo o restante da Escritura, Deus experimenta intensos sentimentos de felicidade. Ele demonstra um deleite irrestrito quando vê as pessoas agirem de maneiras que lhe trazem honra: quando lhe dão adoração, quando demonstram fé na mais aflitiva das circunstâncias, quando um amor terno é compartilhado entre seu povo. O Deus da Bíblia sorri, e seu coração canta de deleite. "Ele se deleitará em ti com alegria, renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo." (Sofonias 3:17)²
Num momento da história da humanidade Jesus se fez Filho, se fez servo em nosso lugar. Ali Cristo nos deu exemplo de como devemos agir e de quem realmente Ele era, afinal um dos, e talvez o principal motivo do Sacrifício de Cristo na cruz não fora somente o homem, mas como mostrei no post anterior, reinvindicar o caráter de Deus estava nos plano do Céu. João 5:19 diz: "... tudo o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente". Jesus foi o reflexo perfeito da natureza de Deus em toda situação que encontrou enquanto viveu aqui na terra.³
As pessoas tentam retratar um Cristo que chorava, um Homem apenas de dores, mas Ele em Seu rosto pendurava um sorriso, Seu jeito era alegre e sabia que tudo tinha sua hora, mas Ele mesmo disse: Não andem ansiosos pela vida, quanto ao que comer, beber ou vestir. A vida é mais que isso e Deus dará o que for preciso. (Mt. 6:25). Fariseus achavam a atitude de Cristo- Sua felicidade, como exagerada à um religioso e daí começaram suas 'perseguições' para com Jesus. Em relação a isto Bill diz: Mas isso não deteve Jesus, porque Ele amava a alegria. Saboreava o deleite, deixando-o rolar por sua língua, trazendo dança aos seus pés e riso à sua alma. Por sinal, uma das razões da obediência que Ele requer de nós é que a nossa "alegria seja completa". (Jo. 15:11)
Deus dá lugar à tristeza
Em Seu ministério vemos Cristo se entristecendo com vários motivos, a morte de Seu amigo Lázaro, ao contemplar Sua amada Jerusalem entregue ao Inimigo, porém a maior de todas as aflições de Cristo foi quando no Getsêmani levou sobre Si os pecados de toda a humanidade, e então não sentia Sua oração subir, tão pouco sentiu-se feliz, a tristeza era tanta que dEle gotas de sangue saíam misturados ao suor; romperam-se os vasos sanguínos de Cristo de tanta opressão que a culpa dos trilhões de pecados lhe acarretavam sobre os ombros, que sabia Ele, estavam prestes a serem chicoteados.
Jesus percorreu regiões de tristeza nunca pisadas por ninguém mais. Sofreu nos vales sombrios da traição. Cruzou as montanhas frias da deserção. E nenhuma vez – nenhuma mesmo – deu a entender que a reação certa era limitar a tristeza, "aprumar-se" e forçar um sorriso artificial. Ele não disse: "Não é assim que se demonstra fé – preciso obter de novo a minha alegria". Ao contrário, chorou as lágrimas puras de uma vida comprometida, cheia de fé.[4]
Ele mostrou que não devemos disfarçar nossa tristeza e que também não devemos exibí-la, mas ir ao Pai ainda que não sitamos a Sua presença, pois "o Anjo do Senhor acampa-se ao redor daqueles que o temem, e os livra." (Salmo 34:7)
Deus dá lugar à ira
Quando olhamos no espelho de Deus, Jesus Cristo, não há como negar o fato de que Deus se ira. Será que preciso lembrar-lhe aquela vez que Jesus entrou no templo e viu os comerciantes desonestos elevando os preços dos animais exigidos para o sacrifício a Deus? Jesus não tinha nada contra o comércio honesto, mas aqueles homens eram o equivalente moral de comerciantes que começam a cobrar dez reais por litro de água engarrafada depois que uma tempestade cria uma demanda insaciável. Eles estavam trapaceando nos preços, estavam roubando, estavam transformando a casa de oração num cassino arranjado, e Jesus ficou absolutamente furioso.
Tomando algumas cordas e amarrando-as, ele fez um açoite. Essa não foi uma explosão de mau humor de que Jesus se arrependeria mais tarde. Ele sabia o que estava fazendo, optou por agir daquela forma depois de muito pensar, e seus atos compreendiam o uso de um açoite para limpar o lugar e restituí-lo à adoração.[5]
O som do açoite estalou no ar e assustou as pessoas. Posso imaginar os discípulos dando um passo atrás, de queixo caído, dizendo entre si: "Puxa vida! Jesus fica irado mesmo!".[6]
Mas a ira de Deus não é como a nossa, se soubermos exercitar nossa ira sob as asas do Espírito Santo, conseguiremos nos assemelhar ao Grande Modelo; "...o Senhor é lento para a cólera..." (Salmo 103:8).
Saindo do contexto de ter paciência e agir com sabedoria, como atiçar a ira de um Deus paciente? Hebreus 10:26 diz: "Se alguém pecar deliberadamente rejeitando o Salvador..." (BV). Em outras palavras, a melhor forma de fazer Deus se zangar é ver {e entender} o que Jesus fez na cruz e dizer: "Grande coisa! Quem precisa disso? Não sei, nem quero saber; passe o controle remoto".[7]
Encerrando o tópico Bill diz: Ao mesmo tempo, contudo, lembre-se de que a cólera de Deus se desfaz num instante quando um ser humano teimoso se humilha e reconhece sua condição pecaminosa. Deus quer afastar a ira que sente contra você, por isso proveu uma alternativa por meio de Jesus Cristo e de Sua obra na cruz. Se você rejeitar essa alternativa, mesmo que de modo passivo, dizendo "Não preciso de Deus. Acho que toda essa idéia de meus atos terem efeito sobre Deus é ridícula", então estará obrigando Deus a dizer: "Tudo bem, se você não Me permite tirar seus pecados, terá de viver com eles – e neles – por toda esta vida...".
Deus dá lugar à benevolência
Deus conhece o estado humano, e age com benevolência principalmente com aqueles que "se achegam ao Trono da Graça" (S. Paulo rsrs). E Ele abraça o pecador justificado pela fé, olha em seus olhos e diz: Com amor Eterno te amei e com Minha benignidade te atraí. (Jeremias 31:3)
O pecador arrependido desfruta da consequência de seu erro, mas contempla a benevolência de Deus. Sobre esse sentimento Divino exemplifica o escritor:
Isaías 42:3 diz que Ele "não quebrará o caniço rachado nem apagará a pequena chama que quase não dá luz" (BV). Um caniço oco e envergado. Um pavio que mal está retendo o último vestígio de sua chama. Esses dois quadros frágeis lembram alguns de nós. Um movimento errado – não importa quão sincero (Sinceridade não torna o caminho errado em correto- Ellen White) –, e o caniço estará acabado, a chama, sufocada.
Mas Deus vem, vê os mais frágeis de seu povo oscilarem às margens do desespero, e o que faz? Estende a mão com um toque inacreditavelmente suave, que acaricia o caniço e traz nova vida à chama moribunda. Ele diz: "Vou ser terno. Vou curar suas feridas. Você precisa de benevolência, e tenho muita benevolência para dar".
E o escritor continua:
"E que dizer dos leprosos? Uma coisa era oferecer cumprimento ou cura sem se deter muito, mas Jesus tinha de parar e tocá-los e, o que era pior, abraçá-los. Na época, a lepra era tão temida, que só pensar em tocar um leproso seria uma desgraça para a maioria das pessoas. A lepra destruía as extremidades da pessoa dedo por dedo, artelho por artelho – e dava um tom fantasmagoricamente branco à pele. Levítico 14 faz menção de um remédio severo para o caso de a lepra ser encontrada numa casa: a casa era desmantelada, tijolo por tijolo, madeira por madeira, e tudo era tirado da cidade e jogado fora."
Procure a foto de um leproso, e imagine Crsito abraçando cetenas deles durante Sua Vida!!! Bill está correto ao afirmar ser essa uma demonstração do Amor e Benevolência de Deus conosco; até mesmo porque, como diz Isaías, mesmo nossas virtudes são semelhantes à lepra e ainda assim Deus sente novamente amor por nós, graças Àquele que se fez leproso em nosso lugar.
Deus tem um lado benevolente do qual precisamos. Alguns de nós precisam dele porque apenas experimentamos a severidade por parte das "pessoas importantes" da nossa vida. Do pai ou da mãe, do chefe ou até mesmo do pastor, tudo o que alguns de nós experimentou foi julgamento, escárnio, castigo e ridicularização. E Deus nos diz: "No relacionamento comigo, você conhecerá um tipo de benevolência que satisfará a necessidade até mesmo de um caniço rachado e de uma chama quase extinta". Por Deus ter e demonstrar vários sentimentos – por dar lugar à alegria, à tristeza, à ira e à benevolência –, a Bíblia ensina que podemos despertar nEle essas emoções.
Lembrando: Deus não é controlado por nossas ações (racionais ou emocionais)! Nesse último tópico irei apenas adicionar citações do escritor.

Comovendo a Deus e um retorno a vida vibrante!
Já que Deus se permite comover, temos a oportunidade de comovê-lo. De certa forma, podemos fazê-lo se alegrar. Podemos trazer um sorriso à sua face reagindo sempre com sinceridade, confiança, fé e obediência. A qualquer momento do nosso dia, podemos pensar numa forma de adorá-lo, oferecer essa adoração a Deus e despertar um sorriso de deleite em sua face eterna.
Nesse cristianismo, não apenas quebramos uma regra – quebramos o coração de Deus. Não apenas "saímos da linha" – violamos um relacionamento e traímos uma confiança. Não apenas "desobedecemos" – desonramos nosso amigo mais chegado. Não apenas cometemos uma infração – apontamos o dedo a alguém que estendeu mãos sangrentas, furadas por cravos para nos salvar.
Podemos despertar a ira de Deus. Podemos rejeitar a Cristo, tornar-nos obstinados, seguir nosso próprio caminho e levar Deus à ira.
E podemos também produzir a ternura de Deus. Alguns de nós realmente precisam admitir: "Deus, sou como um caniço rachado... ou uma chama bruxuleante". Se apresentássemos nossa condição diante de Deus com sinceridade, ele viria ao nosso encontro com ternura.
Trata-se de uma verdade que nos leva à reflexão, nos choca, nos parece quase inacreditável, mas é 100°% bíblica: cada uma das nossas ações e atitudes exerce uma influência em Deus. Por natureza, ele é um Deus que pode ter diferEntes sentimentos e nos deu a capacidade de comover seu coração.
Ainda há mais uma implicação em amar um Deus assim tão cheio de sentimentos: ficamos livres de uma existência insensível.
Alguns de nós perderam a intensidade das emoções. Às vezes refreamos e amenizamos essa intensidade até ser forçados a negar uma parte essencial do que significa ser humanos, criados à imagem de Deus. Deus quer restaurar essa capacidade de nos entregarmos aos sentimentos [tendo um equilíbrio]. Como Suas criaturas, porém mais ainda como filhos, precisamos nos permitir deleite intenso e prolongado sem nos sentir culpados.
O Deus que procuramos não é um estóico. É tudo menos unidimensional. É um Deus com sentimentos múltiplos, que explorou as profundezas da emoção e dos sentimentos além das esferas da compreensão humana. Esse é o Deus que podemos passar uma vida inteira aprendendo a conhecer. Esse é o Deus que nos pode levar a uma vida plena e perfeita. Esse é o Deus que sente conosco. Esse é o Deus que procuramos.
Notas:
1- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 01
2- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 01
3- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 03
4- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 05
5- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 06
6- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 06
7- O Deus que você proucura, cap.: 04, pág.: 07
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